Itapocu
Um pouco da História
A Comunidade Quilombola de Itapocu, situada em Araquari, é um testemunho vivo da herança afro-brasileira e da importância da manutenção das tradições ancestrais.
Reconhecimento Oficial e População: Um marco fundamental para a comunidade foi o seu reconhecimento oficial como remanescente de quilombo pela Fundação Cultural Palmares em 10 de maio de 2019. Este é um passo crucial para a garantia de direitos territoriais e o acesso a políticas públicas específicas. Atualmente, a comunidade é composta por aproximadamente 40 famílias, totalizando cerca de 200 pessoas, que trabalham ativamente para preservar sua identidade e patrimônio.
Patrimônio Cultural e Religioso: Um dos pilares culturais e espirituais da comunidade é a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, fundada pelos próprios quilombolas. Este local sagrado é o palco da tradicional Festa em devoção à Nossa Senhora do Rosário, uma celebração que exalta a cultura afro-brasileira, a fé e a resistência dos antepassados.
Infelizmente, a igreja foi alvo de um triste episódio em 2023, quando sofreu vandalismo e furto, resultando na subtração das coroas da imagem de Nossa Senhora e em danos ao patrimônio histórico. Este ato gerou grande indignação entre os moradores e devotos, evidenciando a urgência da proteção e valorização desse legado cultural e religioso.
Educação e Parcerias Estratégicas: A educação é um pilar importante para o desenvolvimento e a preservação da cultura em Itapocu. A comunidade conta com a Unidade de Desenvolvimento Quilombola Itapocu, uma escola pública estadual localizada na Av. João Carlos Rosa, 96. Esta instituição oferece Educação de Jovens e Adultos (EJA) e possui capacidade para até 50 matrículas de escolarização, atendendo às necessidades educacionais locais.
Além disso, a comunidade tem sido palco de importantes iniciativas de integração e aprendizado. Em junho de 2025, educadores da Rede Municipal de Ensino de Criciúma visitaram Itapocu. Esta ação, promovida pelo Programa Municipal de Educação para as Relações Étnico-Raciais (PMEDER), da Secretaria Municipal de Educação, teve como foco fortalecer o compromisso com uma educação pública antirracista e plural. Durante a visita, houve momentos de escuta e troca de experiências, onde os educadores puderam aprender com os moradores e reconhecer o protagonismo negro da região.
Desafios e Perspectivas Futuras: Apesar dos avanços alcançados, a Comunidade Quilombola de Itapocu ainda enfrenta desafios contínuos, especialmente no que tange à infraestrutura e à constante necessidade de proteção de seu patrimônio cultural e histórico. A luta por melhorias nas condições de vida e pela valorização de sua identidade permanece como uma prioridade.
A parceria com instituições educacionais e a realização de eventos culturais são estratégias fundamentais para fortalecer a comunidade e garantir que seus saberes, suas tradições e sua história sejam transmitidos e valorizados pelas futuras gerações. É um exemplo claro de como a cultura e a educação caminham juntas na construção de um futuro mais justo e respeitoso.
A história do Catumbi de Itapocu está intrinsecamente ligada à formação da própria comunidade, outrora conhecida como Porto do Sertão, um importante reduto de negros, escravizados e libertos, em uma Santa Catarina predominantemente associada à colonização europeia. O Catumbi nasceu como uma poderosa manifestação de fé e coesão social da população negra na diáspora no ano de 1854. A prática religiosa, especialmente o culto a Nossa Senhora do Rosário, serviu como um elemento de reagrupamento e resistência cultural.
A Origem Lendária: A tradição narra que o culto à Virgem do Rosário teve início após um evento miraculoso: um clarão provocado pela santa teria impedido que dois escravos fugitivos fossem capturados e estraçalhados pelos cães dos capitães do mato. Em agradecimento e reconhecimento, a Virgem teria solicitado que seu culto fosse realizado com versos e batuque, dando origem ao folguedo.
Os Fundadores: O Catumbi de Itapocu surgiu oficialmente em 1854, fundado por figuras históricas da comunidade negra: Manoel Bangala, capelão da Igreja Nossa Senhora do Rosário. O escravo Antonio Criolo, que se tornou o capitão do Grupo Catumbi. Ambos foram os principais fundadores da Irmandade Nossa Senhora do Rosário.
O Catumbi se manifesta como a Festa de Nossa Senhora do Rosário, que inicialmente era celebrada no dia 26 de dezembro, logo após o "Natal dos Brancos", aproveitando o dia de folga concedido aos escravizados. Após a abolição, a comunidade negra de Itapocu moveu a celebração para o próprio dia 25 de dezembro, afirmando sua presença e fé na data cristã mais importante.
Em resumo, a Comunidade Quilombola de Itapocu é um farol de resistência e uma fonte inesgotável de riqueza cultural em Santa Catarina. Sua história e suas práticas são testemunhos vivos da inestimável contribuição afro-brasileira para a diversidade e a identidade nacional.




Griôs
O termo griô refere-se a indivíduos que são os guardiões da memória coletiva e das tradições orais em suas comunidades. Eles desempenham um papel crucial na preservação e transmissão de conhecimentos, histórias e identidades culturais. Nossa Griô se chama Balbina da Conceição Catarina (Dona Balbina). Confira nossa conversa:


Entrevista realizada pelo acadêmicos João Manoel, Juliano Ladamares, Natalia Souza Pereira e Vanessa Mendes no dia 05/09/2025.
Balbina da Conceição Catarina, nasceu em 21 de setembro de 1918, casou com Zozino Domingo Catarina (In memoriam) e teve quatro filhos: Margarida da Costa, Soriano Sozimo Catarina, José Catarina e Emiliano Sozimo Catarina.; dos filhos, ela herdou sete netos: Vanilson Costa, Luciane Costa, Janaína Elias Catarina, Franciele Catarina, Patrícia Catarina, Adriana Catarina e Cacilda Catarina; os netos fizeram dela bisavó, cujo bisnetos são: Vinícius Nunes, Wesley Domingos e Kauan Catarina.
Ela que é moradora da Comunidade Remanescente Quilombola Itapocu, benzedeira criou seus filhos trabalhando na roça, onde cada qual seguiu seu destino. Ela era membro da Igreja Nossa Senhora do Rosário de Itapocu e fazia flores para o capacete dos dançantes do Grupo Catumbi, manifestação Afro-Religiosa Cultural, existente há mais de 150 anos na comunidade, formado por homens negros, através da congada em devoção à Nossa. Senhora do Rosário.
Vó, qual era a brincadeira que vocês mais gostavam de brincar e como era essa brincadeira?
Ratoeira. E que nós brincava na escola.
E fora isso, mais algum tipo de brincar, boneca, jogo...?
Boneca também nós brincava, mas naquele tempo ninguém podia comprar uma boneca, era feita de pano.
Brincadeira da Infância: A Ratoeira
De acordo com Dona Balbina, a brincadeira da ratoeira era a que mais se brincava na escola. Ela se dava em forma de versos e cantiga. A entrevista relata um momento em que uma colega tinha vergonha de cantar, e o relato se iniciava assim:
E tinha uma tal Mariazinha, que era filha do João Lino. Canta. Ah, não sei. Nunca ela sabia. Canta pra mim. Canta. Eu cantei pra ela. Essa menina não canta de vergonha que ela tem. De vergonha de cantar. Mas pra namorar não tem.
Observação: O passo a passo detalhado da brincadeira não foi totalmente descrito pela entrevistada, mas sabe-se que envolvia versos e cantigas, como o trecho acima.